I Seminário de Cultura e Identidade Romá do Sul Fluminense


Há quase um ano atrás, a equipe de assistência social da minha cidade, Volta Redonda, me procurava para ajudá-los sobre um problema que acabava de acontecer: Uma denúncia ao ministério público sobre ciganas, calins, de Taubaté - SP, pedindo esmola acompanhada de crianças de 2 a 12 anos. 



1º É oficio de uma romi, calin ou sinti levar seu filho a acompanhá-la em seu trabalho, para que aprenda e dê valor ao dinheiro ganho e nunca o desperdice.

2º É direito de um romá exercer sua cultura em território nacional - Brasil.

Tomadas as devidas providências, eis que me veio a ideia de fazer um seminário que abrangesse determinados temas de forma a esclarecer, elucidar a população não cigana, principalmente autoridades de Volta Redonda sobre o comportamento da etnia romá. Amadureci mais esta ideia e junto com a minha aluna de cultura cigana e amiga Doutora Josycler Arana levamos a ideia a UFF - Universidade Federal Fluminense - Campus Aterrado - VR. Escolhemos a data 5/8/2018 antecipando o Dia Internacional Romá, data muito importante para nós ciganos, uma data de luta a exercer nossos direitos, nossa cidadania. 



Com data definida, foi a hora de escolher os palestrantes. Com sabedoria escolhi pessoas (romás e gadjo) atuantes, que defendem minha etnia, que não se vendem a nada. Mikka Capela (sinto); Marcos Rodrigues (calon); Ricardo Samel (gadjo) e Josycler Arana (Gadji) e eu (romi).


Os temas foram escolhidos de forma a atender as necessidades de Volta Redonda, uma cidade com fluxo migratório de Calons, que naquele momento sofria com preconceito e discriminação, que as mulheres calins estavam sendo impedidas de fazer seu ofício: vender pano de pratos com seus filhos as acompanhando

A primeira pessoa que convidei logo que tudo havia se confirmado, foi a escritora Cristina da Costa Pereira, uma grande amiga da etnia romá, com uma grande contribuição através de 7 livros contando de uma forma suave e poética o que são os ciganos e como respeitá-los. Por motivos de saúde ela não poderia estar presente mas imediatamente se prontificou a mandar uma material maravilhoso, que chegou em duas semanas e que prontamente o usei na abertura do seminário.

Rapidamente o panfleto com as informações do seminário se espalhou pela capital e de presente tivemos a confirmação da presença do Professor e Coordenador do curso de Biblioteconomia da UniRio - o Calon Eduardo Alentejo.

Com tudo definido, fui atrás das autoridades de Volta Redonda que se interessariam em assistir o seminário e assim junto achar soluções cabíveis a tudo que havia acontecido. Entrei em contato com a secretária de cultura de VR, Aline Marah Ribeiro e prontamente ela me respondeu dizendo que iria. Liguei para a Secretaria da Mulher, Idosos e Direitos Humanos e a secretária Dayse não poderia ir, pois haveria compromissos, porém mandaria uma substituta - Ludmila Aguiar de Assis para representá-la. O Creas de VR prontamente falou que mandariam assistente sociais. Falei também com a Bárbara Cunha chefe de gabinete da Seplag (Secretaria de Planejamento, Transparência e Modernização da Gestão de VR). Tentei várias vezes entrar em contato com o prefeito e seus assessores, sem sucesso.

Com o prazo de um mês as inscrições no site da UFF chegaram a 200 inscritos, dentre eles amigos, conhecidos e simpatizantes pela cultura, alunos meus de dança e cultura cigana, alunos do curso de direito, administração pública e psicologia da UFF. Um número considerável para um seminário num mês em que há provas e diversos outros eventos no campus.

Chegado o dia do evento, com várias autoridades confirmadas e 200 inscritos, palestrantes já em VR, nos encaminhamos a UFF. O evento começou 19 horas em ponto. Foi um seminário maravilhoso, histórico!! Conseguimos reunir numa mesa os principais clãs ciganos: Calon, Sinto e Rom. Tivemos um público bem receptível. Não só as autoridades de VR já confirmadas foram como recebemos autoridades de Barra Mansa e Resende que viram no seminário alternativas para lidar com as questões romás de suas cidades. Recebemos também um representante da OAB e direitos humanos de VR. 

Mostramos que ciganos e não ciganos podem coexistir de forma a todos terem direito de exercer sua cultura e cidadania.


Este seminário foi o pontapé inicial, muito trabalho ainda precisa ser feito. Conseguimos que ano que vem ocorra o II Seminário de Cultura e Identidade Romá do Sul Fluminense com novas temáticas, com palestrantes envolvidos defendendo a causa de uma minoria invisível.


Agradeço a todos de alguma forma me ajudaram a colocar este projeto em prática!!! Muito mais coisas virão!!! Sou cigana e luto pela minha etnia!! Não quero amor, quero respeito!!!

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