Figurino da Dança Cigana

Em meus textos sempre falo sobre a pluralidade cultural romá na dança cigana, ou seja, onde os ciganos estiveram absorveram a cultura local, incluindo seu folclore, vestimenta e musicalidade.

Hoje encontramos vários erros na dança cigana. Um deles é sobre a vestimenta adequada para uma determinada dança de um determinado país, as confusões e os equívocos são muitos. Estes erros acontecem devido ao desconhecimento da bailarina, falta de estudo ou ensino incompleto por professores desatualizados.

Neste artigo me limitarei a falar somente sobre as vestimentas femininas em vários tipos de dança cigana. Num outro artigo falarei sobre os demais aspectos de uma dança, como ritmo, sequência de passos e particularidades.

Banjari / Kalbelia - Dança realizada atualmente no norte da Índia, nas dunas do deserto de Thar no Rajasthão. As bailarinas em seu dia-a-dia usam saris com cores variadas. Em apresentações podem usar a tradicional roupa preta, que consiste em uma blusa longa (Pila / Khachi) cheia de adornos prateados, espelhinhos e búzios. Uma saia longa com temas triangulares bordados em toda a saia em branco, amarelo e vermelho formando grandes mandalas (Lahanga). Por baixo da saia é usada uma calça tipo gênio, de forma que com os giros da saia, as pernas não fiquem a mostra. Nos pés são usadas tornozeleiras com guizos que chacoalham ao ritmo da música. Usam muitas jóias étnicas num estilo bem regional. Em seus braços há lã trançada com miçangas coloridas amarradas imitando um segundo braço. Na cabeça usa-se um véu colorido, preto liso ou enfeitado com fios dourados ou prateados (odhini). Um odhini tem 3 metros de comprimento e 1 metro e meio de largura, ele é preso à cabeça com vários grampos, de forma que suas extremidades fiquem soltas. Os cabelos estão sempre presos em rabos de cavalo ou traças de forma a não atrapalhar a dança.



Ghawazee (Ghazia no singular) - Chegaram ao Egito no século XVIII provenientes do sul da Índia. O figurino ghawazee que conhecemos a partir de antigos cartões postais segue a moda turca nos fins do século XIX, colete  e calça bufante ou saia rodada e curta em contraposição com Tull bi - Teli (ou Assuit) que é a Galabiya tradicional egípcia, bordada em ouro ou prata, utilizada a partir da Idade Média e que se tornou cada vez mais rara.


Alguns elementos da idumentária ghawazee são em grande parte inovação da família Maazin, cujo patriarca Yusuf, entrevistado por Edwina, descreve as mudanças e contextualiza a situação de seu clã em relação às transformações históricas do Egito. Um dos elementos criados é aquele diadema, que durante os anos 70 e 80 virou uma febre entre as dançarinas de dança do ventre do mundo todo. Originalmente a ghawazee cobria os cabelos, como toda mulher do deserto, com um longo lenço bordado e arrematado com pompons (ainda é possível ver nos trajes folclóricos dos fallahins, por exemplo), mas por uma decisão interna do grupo, as Maazin criaram um diadema em forma decrescente, que prendia os cabelos para trás e ao mesmo tempo oferecia maior efeito nos espetáculos. O acessório foi apelidado de Taj Mahal, termo que no Egito quer dizer coroa.


No início a ghawazee utilizavam snujs em suas danças, mas ao longo das migrações da Índia ao Egito outros instrumentos foram inseridos em sua cultura, como o pandeiro e os bastões.

Roman Havasi - Dança realizada na Turquia por ciganos e não ciganos e sua principal vestimenta é a calça saruel ou uma saia com pouca roda com a saruel por baixo, uma blusa com manga curta, colete pequeno aberto, lenço amarrado na cintura demarcando o quadril, jóias étnicas e lenço na cabeça em forma de turbante. Muitas romis na Turquia são muçulmanas, por isso o lenço em forma de turbante.


Cocek - estilo dançando em países balcânicos como Turquia, Sérvia, Macedônia, etc. Utiliza-se a mesma vestimenta que no roman havasi, devido a influência árabe e turca.

Manele ou Manea - É um estilo balcânico derivado principalmente de canções de amor turcas. Na Romênia o estilo musical é bem popular, dançado por ciganos ou não ciganos. Sua vestimenta tradicional é simples com saia plissada estampada com pouca roda, com ou sem avental, lenço de moedas da cintura (optativo), camisa sem decote, sapato e lenço no cabelo (optativo). As roupas são muito estampadas com pequenos motivos florais.

Dança Cigana Húngara - Muito parecida com a vestimenta romena. Uma saia plissada estampada com pouca roda, um avental estampado  preso à cintura, combinando ou não com a saia, sapatos para fazer o sapateado húngaro, uma blusa meia manga não muito decotada e estampada, combinando ou não com a saia e o avental. Lenço na cabeça, poucos e cuidadosos adereços que lhes ornam o pescoço e orelhas, os quais charmosamente colocados por entre os cabelos trançados.


Dança Cigana Russa - o que hoje conhecemos de figurino russo foi estilizado para os palcos, onde as ciganas comercializaram sua dança para ganhar seu dinheiro e ajudar no sustento da família. Utiliza-se saia com bastante roda, em torno de 15 a 20 metros de roda com babados, fitas, com ou sem dourado. Cada vitsa (família) terá sua particularidade na saia. Blusa com mangas largas e grandes, cabelo solto usando uma tiara, rosa ou sem nada, sapato para fazer o sapateado russo e uma saia com menos roda por baixo para fazer de anágua. As russas também podem usar um vestido bem rodado. Estas roupas podem ser com estampas vaiadas, lisas, coloridas, mas sempre mantendo o estilo e a classe.


Rumba Andaluza - Esta é uma das danças mais deturpadas no cenário da dança cigana, pois colocam saias exageradamente rodadas, movimentos exagerados de saia, saia até a cabeça e não é nada disso. O figurino utilizado em uma rumba é o mesmo utilizado no flamenco com estampas de bolas, flores ou muito coloridos como na própria região pede, pois os ciganos desde a Índia tem por característica serem coloridos. As saias são justas até um pouco abaixo do quadril onde ela se abre e pode ou não estar cheia de babados segundo o gosto pessoal. O corpo costuma ser bem justo delineando-o exatamente como é no sul da Espanha e suas mangas também ficam a critério do gosto pessoal. Utiliza-se poucos acessórios, apenas complementando o figurino... típico de Andaluzia! Os cabelos são consoantes ao folclore local.


Zambra - Outra dança muito deturpada devido ao pouco conhecimento ou desconhecimento total dos professores de dança. Os erros mais frequentes são achar que a zambra é uma fusão flamenco-árabe, que seria um pleonasmo, já que o flamenco vem também da influência de uma dominação moura na Espanha durante 700 anos e outro erro frequente é dançar descalça. É costume na zambra utilizar-se do sapato flamenco. Não há registro histórico confiável de bailarinas dançando descalça. A vestimenta, pelo pouco registro histórico, se deduz que seja uma camisa amarrada na cintura e saia justa demarcando o quadril. Hoje as vestimentas de zambra já se modificaram bastante, usando-se vestidos e trajes flamencos característicos de Andaluzia e que em nada lembra o possível figurino da época.


Brasil - No Brasil muitas famílias costumam reproduzir as danças de seus ancestrais que migravam de vários lugares da Europa para o Brasil; porém em suas vestimentas os ciganos agregaram elementos regionais e estilizam as roupas de seus antepassados. Os ciganos por onde passam absorvem a cultura local e as reproduzem à sua maneira e não poderia ser diferente no Brasil. Em cada região veremos ciganos dançando, cantando e usando roupas regionais de forma a melhor se integrar ao país com mais miscigenação e mistura gênica. é o Brasil.

Texto escrito por mim, Alessandra Tubbs, revisado pelo professor de dança flamenca Ricardo Samel e com a correção ortográfica de meu esposo Fábio Tubbs.

Referências:


OLIVEIRA, M.O - Onde o vento passa: recriações a partir do universo das danças ciganas. Artigo de pesquisa da Cultura oriental


SAMEL, R – Apostila de Rumba Andaluza – Material didático do curso de Registros Andaluzes em 2015.

SAMEL, R – Apostila de Zambra – Material didático do curso de Zambra.



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