Internet: vilã ou ajuda às pesquisas sobre dança e cultura cigana?

Muitos se utilizam da internet como ferramenta para os estudos de dança e cultura cigana.

Hoje em dia a internet vem para nos auxiliar, porém não podemos acreditar em tudo que há nela. Devemos ter filtro e este filtro é adquirido com conhecimento prévio do assunto, ou seja, estudo profundo da etnia e da dança em questão. Este estudo profundo acontece quando convivemos com famílias romás. Famílias estas que nos dão permissão para aproximarmos. Esta aproximação demora anos, até que um gadjo (não cigano) conheça as tradições de uma determinada vitsa (família). Em todos os clãs os ciganos são desconfiados, reservados e preservam sua cultura inclusive sobre as diferentes vitsas. Quando não se tem conhecimento, fica difícil distinguir se a dança apresentada é feita por ciganos ou não, se existiu ou é apenas uma invenção, uma licença artística que no seio familiar cigano não existe. E nos dias de hoje já é difícil acreditar em que é ou não cigano, mesmo aqueles ciganos que não seguem mais a tradição ou não tem conhecimento cultural do seu próprio clã.
O tempo acadêmico que uma bailarina se dispõem para estudar também conta para seu currículo. É humanamente impossível dominar todas as danças em três ou quatro anos de estudo, sem nunca ter lido, estudado e convivido com famílias romás. Isso dará a bailarina apenas conhecimento superficial. E hoje o que mais temos são bailarinas de conhecimento superficiais que montam suas coreografias em vídeos na internet sem ao menos explicar o porquê de um determinado movimento estar na coreografia.
Os ciganos nascem, crescem, desenvolvem-se e envelhecem dançando, o cotidiano molda sua dança, pois os sentimentos são aflorados e não há pudor nem vergonha. A dança é introspectiva, uma expressão interna de sentimentos e não se importam com que os outros pensam. Este é o jeito romá de dançar! E este jeito romá não é passado em vídeos, muito menos em sites de busca na internet.
O que as pessoas não entendem é que a maioria dos vídeos que encontramos da romá mundo afora no youtube ou em outra plataforma de vídeo são gravações que a própria romá quer que os gadjes vejam, não necessariamente é o que a romá dança em sua casa.
Algumas danças exibidas pela romá são puramente comerciais, e tem fins de ganhar dinheiro para sustentar a família. Um bom exemplo são as danças com alguns acessórios, como o xale, que em seu cotidiano são usados como vestimentas, adornos de proteção ao frio e quando vai ao palco ganham outro significado.
Lembre-se sempre que os melhores tesouros romás são guardados a sete chaves e necessitam de anos de convívio para que compartilhemos nossos tesouros.

Texto escrito por mim Alessandra uma romanichal, com algumas observações do profissional de dança flamenca e estudioso da cultura romá Ricardo Samel e com as correções ortográficas do meu marido Fábio Tubbs.

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas